Bolsa de Sangue ou Poção de Cura? 012
Bem, é a última vez que volto nesse assunto (pelo menos por enquanto…)
Nas últimas semanas, escrevi sobre como usar o som diegético e não-diegético nas mesas de vocês para criar um clima. No entanto, um amigo leu os textos e comentou “legal, mas fala de mestrar, coisa que eu provavelmente não farei tão cedo”. Eu poderia tentar escrever um texto sobre como mestrar é bem menos complicado do que muitas vezes parece, mas ao invés disso quero propor outra coisa: como o JOGADOR pode trazer música para sua mesa?
Negociando com o DM
Aqui vem talvez a parte delicada: alguns mestres de jogo encaram sua mesa como uma produção dele em que os jogadores têm um papel quase passivo, devendo somente reagir àquela história que ele está propondo (que ele acha genial, com certeza). Nesses casos, talvez seja difícil convencê-lo a aceitar modificações em sua “visão artística”. Porém, o RPG se torna mais interessante quando é compreendido como uma obra coletiva, uma criação que parte do mestre mas é modificada constantemente pelos jogadores. Se esse argumento balançar a convicção do Narrador, recomendo o eBook “Como Improvisar no RPG - Dicas para mestres e jogadores: Os segredos que mestres e jogadores de RPG podem aprender com o teatro do improviso”, de Leonardo Bighi (que pode ser comprado bem baratinho na Amazon - não é jabá rs). Embora não esteja falando sobre música, fala sobre como o GM pode incorporar as sugestões de seus jogadores para enriquecer a mesa. Uma vez que o jogador passou a ser visto como co-autor, vamos ver as possibilidades para o jogo:
Música Não-Diegética: A canção-tema
É comum que os personagens tenham uma música tema nos filmes, séries e novelas, aquela que toca sempre quando ele aparece, ou pelo menos naqueles momentos em que eles assumem maior protagonismo. Em minha já mencionada mesa de “Mistérios no Forte da Vela”, pedi para que cada jogador me enviasse uma música que eles achavam que tinha a ver com o personagem deles. Esse tipo de pedido gera uma certa surpresa: a maioria não está acostumada a participar da criação nesse nível. Porém, o resultado foi bastante interessante. Veio desde trilha sonora de videogame (uma coisa meio eletrônica, que tinha tudo a ver com o personagem, um warforged) até os tradicionais Heavy Metal com temática capa e espada.
Como jogador, costumo pensar na trilha, mesmo que ela não necessariamente seja usada. Ela me ajuda a encontrar o tom do personagem. Algumas vezes é a melodia, em outras a letra… Tem hora que é somente um verso ou refrão. Na construção de Aitor Contxesi, meu espadachim da campanha Shadow of the Dragon Queen, ouvi bastante o disco “Movimento Rápido dos Olhos”, do rapper Rashid. Hip Hop dificilmente vai tocar numa aventura em Krynn, e a parábola política com samurais também não se encaixa com o cenário de Dragonlance, mas a essência, a ideia de um herói relutante que sobrevive para resistir a um mal que parece invencível tem tudo a ver.
“Respeita o bigode
Que o seu ainda é de Toddy”
Música Diegética: “He also plays the lute”
Uma outra alternativa é quando seu personagem é diretamente responsável pela música. Maltratada desde o AD&D, a classe Bardo é uma oportunidade para colocar canções e paródias nas sessões. Ao contrário das edições anteriores, quando era uma opção quase inútil controversa, os bardos na 5a edição se tornaram uma excelente escolha para quem gosta de jogar como suporte mas não quer ficar indefeso.
Mas como o seu bardo toca? As opções dependem de seu talento/disposição. Já vi gente que realmente compunha suas próprias canções e as dedilhava ao violão enquanto jogava. Louvável, mas inviável para alguém completamente sem talento como eu. Para meu bardo halfling pandeirista Mirko Folhaverde, baixei um app que emulava um pandeiro tocando ritmos pré-programados, mas ainda era bem limitado. Outra forma é buscar versões de karaokê de músicas conhecidas (o YouTube está cheio) e criar novas letras, que se adequem às necessidades da campanha. O grupo “Masmorra de Valkária” tá repleto de paródias bem humoradas prontinhas para serem cantadas pelos ermos de Arton. Uma última forma é apelar para as Inteligências Artificiais.
Meu personagem para a próxima campanha em Águas Profundas tem um nível de bardo. Apesar de ser um meio-orc, ele foi criado na sociedade élfica e é proficiente no Gloon (segundo o Cenário de Campanha para os Reinos Esquecidos da edição 3.5, o Gloon é uma variação mais melancólica e sem válvulas da Glaur. A Glaur, por sua vez, é “uma pequena corneta, similar a uma cornucópia. Ajustada por válvulas, ela lembra um trompete soprado com muito fôlego”). Bem, eu não sei nem assobiar, quanto mais tocar trompete ou qualquer instrumento de sopro, por isso recorri ao AIVA. Nele é possível escolher o estilo musical, o clima que quer evocar e até mesmo trocar os instrumentos da música. Não fica nenhuma obra prima, mas assim Akalleyos conseguiu razoavelmente expressar os sentimentos de estar pela primeira vez sozinho numa cidade gigante (com toda a ambiguidade que isso traz para ele).
Eu sei que o Aka está tocando um instrumento só e a faixa tem dois, mas é a “magia” da coisa. Não cobrem tanto realismo para um instrumento inventado! rs
Que as mesas de vocês tenham melodia, harmonia e ritmo para além dos gritos de dor ao rolar 1 natural.